Na primeira vez, o aluno desta universidágua enxerga uma fórmula crítica e poética disposta a dinamitar as bases da (re)produção de conhecimento nos meios universitários, especialmente na área das humanidades. O resultado dessa implosão - escombros, ruínas, pedras e mais pedras nos meios dos caminhos. A destruição do monólito cartesiano e metafísico, racional e idealista, alicerce das tradições eurocêntricas, etnocêntricas, falocêntricas, grafocêntricas levaria, apenas, ao esfacelamento de uma pedra em diversas pedrinhas que serão levadas nos bolsos dos doutores brancos e dos mulatos sabidos, pílulas de pedra sem o rebuço cabralino, moeda de troca-troca no jogo de figurinhas marcadas.
Na segunda vez, o professor entenderá que universidágua engendra um método que lhe permitirá surfar entre os escombros e os troca-trocadores de pedrinhas de toque e pedradas. A metodologia do deslize. A água dessa universidade não é aquela que tanto bate até que fura. Pelo contrário, flui, contorna. É esquiva de Besouro, ginga de Garrincha, no corpo descolado dos esqueitistas das praças suburbanas.
Na terceira vez, o pesquisador compreenderá que universidágua é a epistemologia do de fora, heterotopia, heterogênese, motor da liberdade que deve acompanhar todo pensamento crítico. Este pensamento há de se proteger na escola, sob o risco de se perder a própria escola. De transformá-la, aí sim, em verdadeiro centro de doutrinação, igreja das máscaras dos hipócritas. Longe delas, na universidágua, os céus se misturam com a terra, como quando o poeta vê Teresa.
Universidágua é uma das minhas utopias do aqui agora. Quero ensinar nela porque posso aprender com ela. É onde não só se pode falar, mas, principalmente, pode-se fazer ouvir. É, enfim, o único lugar que se conseguirá fazer verdadeiramente inclusivo, como o que se tem desejado cada vez mais na universidade brasileira, porque é demanda dos interessados e não dos interesseiros.
Alexandre Faria