About the Book
Imortais. Aqueles que permanecerão para sempre na memória dos homens. Trinta povos espalhados pelas fronteiras imaginárias entre Portugal e Espanha, no Novo Mundo. Pessoas adaptadas aos jesuítas espanhóis. Um novo tratado, o de Madrid, substitui o de Tordesilhas e Zaragoza. Sete reduções antes espanholas, agora são portuguesas. É o início da guerra guaranita... José Viana observa os milicianos, quase todos peles pardas e alguns negros, eles não usam armadura, elmo ou trabuco, usam apenas shorts de algodão e quase todos descalços, na frente de cada pelotão um capitão da milícia, esses usão botas e armados com espada e trabuco, o governador de Montevidéo pergunta: - Já estão treinados para o combate? Treinados! - Para os milicianos," El mejor bautismo es el de sangre".General José de Andonaegui responde, com certeza que seus bugres cruzados eram guerreiros melhores que os bugres nativos, pelo simples fato de terem sido treinados por ele ... O coimeiro olha para o chefe Ñhenguirú, ele não está mais na ponta oposta da cancha, atravessa a rua caminhando compassadamente, passeando, quase dançando, vai até ao cabildo, sorri e pisca para Panamussupanema, que assistia ao jogo do marido de dentro do cabildo, mesmo feliz, o olha duro, igual a um ibirapema quebrando ossos, acompanhada de uma voz irritada e melodiosa ... Karaí Djekupé permanece imóvel, ouvindo gemidos, que se estendem pela noite, cessam por alguns momentos, depois outro grito, e segue a sinfonia sem fim de gemidos de agonia, o chefe guerreiro tupi-guarani tenta ouvir outros sons, grilos, sapos, corujas, nada, apenas gemidos fazendo acompanhamento ao som da chuva. Ouve a voz do KapãnoJapo ao seu lado, ele fala em Kaingângue, zombando dos gemidos dos blandengues: - Fi vækrær tóg mæ ha tî. (Dá pra se ouvir ao longe ou choro deles) ... de Andonaegui contesta seu ex-aluno: - Já somos imortais caro Miguel Tinajero, quanto aos atos que nos imortalizaram, depende de como o tolo que segura a pena o descreverá. Um humanista; vai deixar a tinta escorrer pela sua pena, como sangue, manchando as folhas de papel, brancas e indefesas, nas quais descreverá nossas crueldades. O nacionalista; fará da pena uma bandeira, exaltando nossos atos, sem os quais a Mãe Espanha não seria tão majestosa. O historiador; ele fará de sua pena apenas uma pena, fria e insensível, contentar-se-á em narrar os factos que, através da investigação o fizeram crer que assim tudo se passou. Miguel sorri, com a definição geral de imortalidade, pergunta: - E qual desses imortais será o general José de Andonaegui? O general sorri, acaricia o rosto barbudo do ex-aluno, volta a olhar para o Mediterrâneo, pensa um pouco, lembrando-se de tudo que fez em seus mais de setenta anos de vida, chega a uma conclusão: - Eu serei todos eles! Eu não serei nenhum deles ... Mîgkrîrý olha para a entrada da tava, seus olhos contemplam o horror, na forma de uma massa de guerreiros Kaingângue, formado por dezenas de centos de botocudos inimigos, à frente, o botocudo mais feroz que ele já conheceu, descrito pelo nome, KapãnoJapo, Porrete do Diabo, Mîgkrîrý olha para o oposto Põ'í-Bang, como kapãnoem em riste, correndo na frente de seus guerreiros, é o senho fruncino da morte, do diabo, o kaingângue passa por um dos aimorés, antes que esse descreva uma reação, o kapãno, de Japo, estraçalha parte de seu rosto... A fogueira acesa em baixo de um tapiri dos aimorés, devido ao chuvisqueiro que avança noite à dentro, à beira da fogueira, KapãnoJapo atiça o fogo, pega um espeto, feito em madeira de pau ferro, onde espetado está um naco de carne, um pedaço de braço humano, cortado entre o cotovelo e a axila, o rei botocudo olha a carne, parece estar bem assada, morde em cima do bíceps, arranca um naco, mastiga degustando o assado, um gosto amargo lhe vem a goela contaminando a alma, olha o pedaço do braço do Põ'í-Bang Mîgkrîrý, compreende a sensação