"Poesia Declamada
É um prazer da vida.
Um palavrear convicto e bracejado,
que remete ao drama de parir ideias
em multidões sóbrias e comovidas.
Não, não é discurso político,
mas a maravilha, maravilhosa,
que é o declamar da poesia.
É bom. É mesmo, muito bom.
Só é pena que eu não goste.
Não a declamo nem impinjo,
declaro-me a ela.
Não a entoo.
Sopro-a ao de leve para atiçar o lume sem apagar a chama.
E não adianta grita-la.
Se as entranhas que encontra são tão secas e medrosas
quanto as folhas da videira que
estalam aos meus pés em pleno Outono.
Por isso, sussurro-a.
Como um segredo bem escondido ao alcance de todos
os que tem coragem de a ouvir e de a deixar entrar,
à procura do que melhor têm em si mesmos.
E levo-a nas palmas da mão,
para que não me caia nem me fuja,
que é tão delicada quanto as asas de uma borboleta
que pousa numa alma quieta.
E eu não quero que ela se parta.
Quanto mais,
que seja poeta. "