Integrando uma centena de pequenos artigos de opinião em forma de crónicas, este livro constitui uma espécie de diagnóstico do estado da nação e, simultaneamente, lições de Boa governação, que poderiam fazer parte de um guia de boas práticas de governança para a democracia e o desenvolvimento sustentável de um país com as riquezas naturais e culturais como o nosso. São lições ou conselhos que, se forem acatados, poderiam ajudar a moralizar não só a classe política, como toda a sociedade."Sementeira de Esperança" faz uma abordagem crítica da situação do nosso país e dos desafios que enfrentamos para promover o bem-estar e dar um futuro condigno a esta terra e ao seu povo. Lendo estas crónicas nos apercebemos da diversidade, da complexidade e da real dimensão das problemáticas abordadas, que se conjugam e intensificam em cadeia, num círculo vicioso difícil de romper.
Face a todos estes desafios, cultivar a esperança acaba por ser uma utopia. Mas é a última pista de saída deste estado de degradação em que nos encontramos e a Nelvina tão bem descreve. Só com a força da crença da juventude é que poderemos abrir caminhos nessa direção. Porém, a minha geração tem a sua cota responsabilidade. A nós nos incumbe relembrar a nossa trajetória, individual e coletiva, retirar as lições que dela se impõem e partilhá-las com a nova geração. Talvez sirvam de fonte de aprendizado, de inspiração para fazerem o seu próprio caminho em direção aos seus sonhos, dentro ou fora da sua terra, mas com ela no seu coração e como parte fundamental do seu ADN.
Sabendo que a Guiné-Bissau ainda tem tudo para ser um paraíso, o nosso paraíso: recursos naturais abundantes e ecossistemas ainda produtivos, cultura viva e dinâmica, comunidades que conhecem e ainda estão arraigados à sua terra, uma história recente de unidade e luta que nos elevou coletivamente e inspirou o mundo!
Sim, a Guiné-Bissau ainda tem tudo para ser o nosso paraíso! Só lhe falta homens e mulheres com cabeça e coração para assumirem coletivamente o seu destino, o seu futuro.
E onde é que podemos encontrar esses seres excecionais com os quais "desatolar" o país e dar-lhe direção certa, para um futuro de paz e progresso, de dignidade, com que sonharam os nossos fundadores e ao qual aspira o nosso povo? Por onde começar a inverter a tendência atual de destruição do projeto de Nação livre e independente, na base da unidade e luta, legado de Amílcar Cabral, pai da nossa Nação?
Todos nós temos um núcleo familiar, uma comunidade de pertença. É o que está ao nosso alcance para mudar. Porque não podemos esperar lideranças, práticas governativas, que não tenhamos cultivado no nosso seio. Não existe uma raça de políticos, ou de militares, ou de todos aqueles que nós designamos para exteriorizar a responsabilidade pela condução dos nossos destinos. O "Homem honrado" que a minha avó defendia e me ensinou a respeitar, é uma espécie em vias de extinção nos tempos que correm. Até hoje, esta ideia de "Homem honrado" me serve de baliza para delimitar as fronteiras da minha vida e as escolhas que nela faço, tanto na minha família, como nas organizações nas quais tenho trabalhado, na sociedade da minha pertença, no país que abraço. É a minha coluna vertebral. (...)