Em situações difíceis, podemos nos lembrar da brevidade da estadia planetária de cada um. Nosso estar terrestre ganhará leveza e fluidez, ao mantermos presente a consciência de sermos passageiros desse tempo. O viajante sábio irá reduzir sua bagagem, pois terá de carregá-la consigo. Contudo, ele fará uso do riso, como um tipo de asa facilitadora de pousos inevitáveis.O temor de um encontro conosco origina o conhecido tédio, daqueles dias envoltos em calmaria. Não podemos reconhecer no período vazio um tipo de abertura, capaz de nos permitir o "olhar" para nossa identidade essencial. As aspas querem demonstrar que não falamos do olhar, mas de um estado alerta de silêncio e escuta total. É fato que, sem nos darmos conta, incontáveis vezes a cada dia, repetimos a mesma rota de fuga da dor de não nos sentirmos aceitos por nós mesmos.Ainda não podemos perceber que o passado esteja se repetindo, desde os primórdios das civilizações. Nosso automatismo nos impede o acesso ao instante zero. Não sabemos, mas aquilo que temos denominado "agora" é mero recomeço de mesmo padrão inconsciente, revestido de camadas de auto idealizações ilusórias. Parece paradoxal a constatação de que aquisições tecnológicas acentuem nosso estado semiadormecido. Porém, podemos observar a facilitação que a tecnologia tem conferido à nossa busca por afastamento de quem somos. Um tipo de cortina parece encobrir 99% de nossa totalidade, ao nosso próprio olhar. Ocasionalmente, de maneira fugaz, notamos nosso modo estereotipado e, então, usamos a expressão "Déjà Vu", para o episódio autoperceptivo.Nossos corpos compostos de elementos químicos planetários são veículos que aterrissam nossas almas imortais. Desconhecedores de nossa amplitude, nossa identidade tem se tornado a ganância, mesmo quando seja por salvação pessoal. Nossa aparente tragédia é a inconsciência de nós, deixando-nos impressões de vulnerabilidade, insegurança, carência e imperfeição. O desejo de libertação do medo de perecimento é crescente. Parece apenas coincidências ou sincronismos existenciais, quando notamos que são as impressões de limitação que vivenciamos na manifestação da vida na matéria que nos proporcionam autoconhecimento, permitindo-nos a sabedoria de nossa vastidão. Afinal, como saberíamos o que é luz, se não houvesse sombra? Como saberíamos o que é silêncio, se não houvesse som? Nossas mentes mesclam nossa verdade ilimitada aos efeitos de descargas neuronais, representadas por diferentes gradações de adrenalina e serotonina, necessárias à autodefesa e à sobrevivência. Cinema e Parques de diversões provocam em nós uma diversidade de descargas de neurotransmissores. Nossa equívoca perseguição da sensação de plenitude culmina em grande número de mortes, na escalada das doses de drogas recreativas, incluindo as bebidas adocicadas e o álcool. Desconhecemos a grande façanha da inteligência universal, por condicionar sentimentos de plenitude e segurança à presença de oxitocina em nossa corrente sanguínea. A questão é que sua duração é fugaz, necessitando haver estímulos ininterruptos para a sua liberação. O que ainda desconhecemos é que ela seja liberada em nossa circulação sistêmica, apenas quando sentimos amor ao próximo - sendo esse o único modo de nos sentirmos repletos de gratidão à vida. O amor incondicional é a única sabedoria. Sem ele, ainda que possuamos grandes riquezas, persistiremos insaciáveis e em busca de preenchimento. A suspeita de haver algo maior à nossa espera tem levado a humanidade à criação de ritos e dogmas religiosos. Temos nos confundido de que um paraíso exista depois da morte. Porém, sábios têm nos afirmado que ele seja o agora, quando a vida pulsa e o amor se manifesta.