Perigo para a sociedade é uma história verdadeira narrada com linguagem simples, sem maquiagem, sensacionalismo ou apelação. Esta história retrata o drama vivido em uma família de classe média dos anos 1980 de um relacionamento conturbado entre pai e filho que resultou em lágrimas, dor e muita angustia aos pais por ver um filho mergulhado no mundo das drogas.
Ricardo teve uma infância privilegiada, teve a sorte por nascer em uma boa família, na linguagem popular, "uma criança bem-nascida". O garoto foi criado com carinho, dedicação, esmero e principalmente fartura, em sua casa nunca faltou nada de bens materiais. Contraditoriamente conforme cresceu nada disso foi suficiente para fazer dele um garoto realizado, tampouco alegre e feliz devido a muitos desentendimentos entre Ricardo e seu pai. Os conflitos entre eles iniciaram quando Ricardo ainda era um pré-adolescente. Foram tantos desentendimentos que transformaram completamente a vida do jovem levando-o a se envolver precocemente com substâncias entorpecentes.
Ricardo sentia o peso das cobranças, porque o pai idealizou alguém que ele jamais conseguiria corresponder para atender as expectativas criadas pelo pai. Por não haver entendimento as desavenças entre eles eram constantes.
Devido a tantas discórdias, naquela casa os conflitos eram inevitáveis, parecia não haver mais espaço para a paz, pai e filho criaram uma espiral de desentendimentos onde cada ciclo era mais doloroso que o anterior. Havia uma atmosfera sombria entre eles devido uma disputa desigual de forças onde jamais teria um vencedor, mas, apenas vencidos.
Por razão dos intermináveis conflitos entre eles teve como resultado distanciamento, inimizade e sofrimentos insondáveis.
Braz, pai do Ricardo era comerciante, homem honesto, trabalhador e excessivamente preocupado com o bem-estar da família, demasiadamente exigente, era rude e bruto como um búfalo selvagem no trato com seus filhos, em especial com Ricardo por ser o filho primogênito. Este tinha uma personalidade forte e nunca aceitou a forma que seu pai o tratava.
Braz era um homem implacável com as falhas dos filhos, seu nível de exigência era altíssimo e nunca estava satisfeito, isto tornava a vida do garoto Ricardo insuportável. Além disso, havia o agravante da brutalidade do pai não respeitar hora ou lugar, suas broncas eram humilhantes e em público que deixava o garoto com vergonha dos colegas resultando em dor, tristeza, revolta e trauma.
Para suportar a dor e a angústia que os conflitos geravam Ricardo se envolveu muito cedo com as drogas, com apenas doze anos buscou amparo no vinho, na cola de sapato, na benzina, na maconha e em outras drogas ainda piores.
Este envolvimento precoce com drogas fez com que aquele garoto com um futuro promissor se transformasse em um dependente químico e em um verdadeiro Perigo para a sociedade que teve como desfecho o presídio do Carandiru..
Fomos colega de infância do Ricardo, acompanhei a sua pouca alegria, seus lamentos e também seus planos e tudo que sonhava alcançar algum dia. Acompanhei as suas decepções, suas angústias e também algumas de suas realizações.
Em uma conversa Ricardo me confidenciou algo que reflito até hoje. Ele disse: "Sei que meus pais sofrem por saber que sou um viciado, para eles é droga, e tenho consciência que é a causa do sofrimento deles, mas para mim não é, porque o que eles chamam droga para mim, é satisfação, é felicidade e puro prazer".
Droga é o adjetivo que dão as coisas que causam perdas, dor e sofrimento. Para os usuários é a fonte do mais genuíno prazer que eles encontram na vida.
Ricardo me deu muitos conselhos, entre tantos um ficou gravado em minha memória e mais ainda no meu coração. Ele disse: "Meu amigo e irmão, nunca em sua vida, jamais experimente droga, caso algum colega lhe oferecer não aceite e afaste-se dele porque este não