About the Book
Uma vez encontrei-me em Fátima com um padre da Costa do Marfim, tinha uma batina tão coçada que já não era preta, estava num preto amarelento. O padre falava francês, língua do seu país e eu fiquei à conversa com ele no local onde tomávamos, há já algum tempo, o café da manhã. Era um homem tímido, de baixa estatura, e sentia-se nele alguma ansiedade. Sempre sorridente, parecia querer ficar bem na foto e foi-me criando alguma curiosidade. Ficamos amigos e daí até ele me contar o que esperava encontrar em Fátima, de Nossa Senhora, foi um passo. Ele esperava ali um milagre da Senhora. Era um sacerdote num interior muito interior, no meio do nada, só com caminhos de terra batida, com pó e mais pó, tinha de servir uma série de povoados carentes de tudo, para se deslocar tinha um Volkswagen velhinho, quando chegava a uma paróquia a batina que levava não servia mais, estava branca do pó que se impregnava pelo caminho... Eu olhava este homem contando todas as suas dores como se estivesse confessando, e me interroguei: quantos destes homens não estão nas mesmas condições pelo Mundo? Perguntei-lhe, Padre e como o senhor veio até Fátima? Se o senhor diz não ter dinheiro? Meu filho, foi preciso juntar todos os trocados de dez anos, mas eu sei que Nossa Senhora vai fazer um milagre na minha vida. Eu não quero mais aquilo! Prefiro morrer por aqui na valeta se não me aceitarem no Santuário e me ajudarem... Sabe meu filho, eu tenho muita fé em Nossa Senhora! E foi por isso que eu fiz tudo para vir até aqui! Perante esta confissão e com alguns outros casos de que tinha conhecimento, eu me sinto habilitado a testemunhar de como vivem alguns destes Homens de Deus, e aqui lhes faço uma homenagem. Com esta história de ficção do Padre Bento pretendo prestar uma homenagem a todos esses homens espalhados pelo Globo, que muitos deles isolados, numa profunda interioridade e solidão, destacados para lugares onde nada há, carregam sobre seus ombros a missão de aliviar a cruz dos que aí habitam, que são os pobres, sobretudo. São com certeza uma das pessoas mais procuradas em momentos de aflição, de desânimo, numa agrura da sua vida. Um conselho, um encorajamento, uma palavra é o que estará à mão, um evoco da palavra divina, sobretudo, uma mão e até um abraço, são cruciais naquele momento de dor, incerteza, desânimo e que nunca se esquecerá. Essa é sem dúvida a qualidade marcante, mas esses homens também vivem com carências que ninguém ou quase se demora a avaliar... O caminho para ultrapassar momento ruim e chegar ao amanhã melhor, é anunciado evocando aquele homem de Nazaré que muito sofreu mas a tudo resistiu com coragem; é a Palavra de Deus que lhes é levada com fé, elevando-lhes a capacidade de sofrimento, contribuindo assim para o melhor bem-estar espiritual e aliviando-lhes muitos males ou mesmo curá-los. Inteiramente disponíveis, realizam muitos e felizes eventos do cotidiano dessas comunidades, dos menos aos mais importantes, mas quantas vezes, logo facilmente descartados ... Quantas vezes observamos num casamento, baptizado ou outro, a felicidade com que todos estão inundados no momento sendo abençoados por aquele homem que representa Jesus Cristo, o Máximo na Terra e nos Céus, sem ele a cerimônia nunca teria sido a mesma, não teria tido o mesmo sentido, ou até, simplesmente não se realizaria, mas parece que é coisa devida, porque de seguida radiantes de felicidade se afastam muitas vezes friamente, voltando costas e ele já ficou para trás, parecendo até que foi alheio a tudo aquilo. E ele lá fica no Altar, o seu Altar, esperando lá onde sempre se encontra e encontrará disponível, em meditação e sozinho... O que até há bem poucos minutos foi a figura central daquele evento, revestido de Poderes Superiores e que causava a felicidade de todo mundo, está só, já esquecido, de olhar errante, ao lado da Cruz... da sua Cruz...