Ana C. dizendo "felicidade se chama meios de transporte" deu a tábua de navegação e naufrágio daquele final de século que já recomeçou. Os peixes são tristes nas fotografias nos transporta por onde se conheça o que é estar triste. E isto, bem se sabe, é em toda parte.
"Triste" se repete como simplificação dos inúmeros sentimentos, estados de consciência e espírito que atravessam este livro. É o modo de se saber sensível, misturado pelos caminhos e pelos encontros. Em que cidade? Ora, depende. A cidade é tanto um conceito como as específicas: Budapeste, Lisboa, Porto, Nova York, algures no Algarve e por aí vai. Também se é nômade no íntimo recortado do poeta: nas cidades há sempre alguém em quem se desdobrar, remeter, (não) entender e recolher. Alguém com quem passear e se desentender. Neste livro tudo é relação. O desejo, um nômade? Homem, mãe, mulher... e nos afetos deste livro o uso de "você" ou "tu" também é flutuante, não só pela convivência do autor com o português de Portugal, como por motivos de ouvido & emoções ambíguas.
Isto se trança e estranha na gente, dançando de rosto colado, num ambiente esfumaçado em que, sem reconhecermos facilmente os outros, mergulhamos em nós mesmos. Será que estamos num filme? Os versos aparecem como frames, os versos são um pedaço de canção que se encravou na gente.
Se Otávio Campos vai a toda parte, está sobretudo no momento presente, desde a epígrafe do também jovem e talentoso Luca Argel. Mas os ecos que imediatamente ouço neste livro vem mesmo é de Marília Garcia, Ana Martins Marques, Matilde Campilho. Diria eu no português de lá que o Otávio é engraçado e é tão inteligente que suas ligações se dão com as poetas mulheres desse hoje.
Como num jogo de ligar os pontos em que alguém cortasse os fios, não é de surpreender que essa poesia nos atravesse. "Por enquanto desistimos de ser tristes".