About the Book
O presente livro não apresenta simplesmente uma tese, desenvolvida depois em doutorado, mas uma obra erudita, sábia, de imenso valor para a história diplomática brasileira. Tudo foi cuidado com a orientação teórica do Autor: o método, as fontes, a crítica, a compreensão histórica, tudo é obra de grande historiador. O capítulo III, de setembro de 1939 a junho de 1940, revela logo a força de sua capacidade de historiador. Assim como a conclusão, a escolha real, os atores, seus atos e suas mudanças e a reviravolta final são modelares como compreensão histórica.(...)O Autor não foi conciso, foi generoso, deve ter escrito tudo o que sabia - e era bastante. O livro a ele pertence e merece ser lido e consultado por todos os estudiosos brasileiros, pois se trata de uma das mais importantes obras históricas escritas sobre o Brasil, pela riqueza, pela amplitude das fontes, pelo domínio das línguas que sobre a matéria se escreveram, pelo conhecimento que acumulou e soube divulgar, numa construção modelar e pela compreensão generosa e exemplar do livro.Citação do Prefácio de José Honório RodriguesO Brasil desejou participar da guerra? Ou, preferindo-se uma pergunta menos acadêmica, qual encadeamento de circunstâncias levou o país à guerra? Evidentemente, um país de 8.511.000 km² e com 41 milhões de habitantes dificilmente mereceria a indiferença dos protagonistas de uma guerra que, pela presença de colônias europeias, logo ameaçou atingir a América. No início, o Brasil não tem interesse direto no conflito. Imenso país, cuja independência política ainda é recente, ele mal começa a procurar o caminho de seu desenvolvimento econômico. Tão pouco foi realizado até então que tal desenvolvimento, a princípio, constitui a principal preocupação dos responsáveis por sua diplomacia. Porém, a construção econômica e militar do Estado brasileiro moderno passaria obrigatoriamente, pelas destruições impostas pela guerra?Esse dilema, sem ser enunciado de modo explícito, estará presente nas páginas que se seguirão, podendo ser lido nas entrelinhas de todas as opções decisivas. A esse respeito, a história do Brasil tem algo de exemplar, podendo servir como referência a numerosos outros países em desenvolvimento que estão em posição semelhante em face da guerra.Alguns poucos exemplos são suficientes, então, para que se perceba o quanto a história, tensa entre a crise externa e os dilemas internos, molda-se por diferentes interpretações, marcada tanto por nuanças como por acontecimentos significativos.No seio de uma equipe governamental amplamente dividida no plano interno, decidem-se as orientações da política externa, que dependem das lutas de influência dos principais atores. Por esta razão, a evolução da política interna merece atenção. Nessa perspectiva, a pesquisa ultrapassa o quadro da análise tradicional das relações diplomáticas.No que tange às relações intergovernamentais, vários outros aspectos, como a propaganda ideológica, as relações econômicas, a cooperação militar, a luta anticomunista e, enfim, um aspecto pouco conhecido, a diplomacia secreta e paralela, todas foram abordadas através de múltiplas fontes. No âmbito das "colônias estrangeiras" instaladas no Brasil, a italiana e a alemã ocupam crucial importância nas relações entre o Rio de Janeiro e o Eixo. Como essa questão é vista a partir de Roma e Berlim? Qual é a natureza e o grau de lealdade dessas colônias para com o país de acolhida? A política externa brasileira do período em tela é fruto da interação constante desses diversos elementos.A metodologia empregada baseia-se essencialmente na crítica e na confrontação das fontes de origens diversas. Essa maneira de proceder, que se resume a uma interrogação da história, tornou-se indispensável pela ausência relativa de pontos de referência e pelo desequilíbrio, por vezes digno de nota, das fontes consultada