No final de 2017, publiquei no Youtube meu primeiro vídeo sobre Jair Messias Bolsonaro, na época apenas um dos muitos nomes possíveis para uma eventual candidatura à presidência.
Naquele momento, a vitória de Bolsonaro parecia inconcebível e muitos analistas políticos, habituados a um processo eleitoral pré-redes sociais, supunham que, uma vez que a engrenagem fosse posta em movimento, o controverso deputado federal seria devorado pelos partidos e candidatos tradicionais.
Bem poucos viram na vitória de Trump os sinais daquilo que poderia ocorrer também no Brasil e como uma série de forças históricas se uniria para uma tempestade perfeita.
Ao longo de 2018, os índices de intenção de voto de Bolsonaro se mostraram consistentes e a internet servia de termômetro. Cada vez mais a vitória dele se tornava uma possibilidade e, para muitos grupos, principalmente de minorias, a simples ideia de ter um homem com um longo histórico de falas autoritárias, racistas, misóginas e homofóbicas era horripilante.
Então Bolsonaro foi o candidato mais votado no primeiro turno, levando à evaporação completa do apoio a demais candidatos da direita ou centro-direita. Enfeixando um conjunto de valores dito conservadores, com suporte dos tais "cidadãos de bem", de evangélicos neopentecostais, católicos tradicionalistas, alunos de Olavo de Carvalho tornados influenciadores digitais e candidatos, pró-armamentistas, lavajatistas, antipetistas, e com toda uma retórica contra o establishment político, ele conseguiu convencer 57 milhões de eleitores brasileiros de que era a melhor - ou a menos pior ― das alternativas.
Ainda hoje, muita gente tem dificuldades para compreender o processo que levou à vitória de um político de carreira que, em distintas circunstâncias, afirmou que a sua especialidade era matar, apologista da ditadura militar do Brasil, cujo livro de cabeceira (segundo ele mesmo) é de um torturador conhecido, o mesmo torturador que foi homenageado por Bolsonaro quando anunciou seu voto em favor do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff em 2016, com constrangedores vínculos com milícias cariocas, e que, embora se diga cristão, representa o oposto dos princípios de amor ao próximo e tolerância do Cristianismo.
Este livro reúne artigos que publiquei na Folha de SP e na Carta Capital a partir de janeiro de 2019. Neles, empreendo este esforço de compreensão dos eventos que se sucederam desde a eleição de Bolsonaro e o mergulho no abismo de toda uma nação.
Hoje, ele ainda está no poder. E ainda não temos ideia de qual será o desfecho desta história.
Henry Bugalho