Imagine-se a olhar alguns livros numa livraria e a se deparar com os subtÃtulos de um sumário interessante. Por acaso, à pouca distância, vocè ouve uma conversa e descobre que alguém está falando justamente sobre um dos tópicos, por exemplo, sobre Nietzsche; Nietsche que, de fato, havia previsto que seguiriam falando dele por mais de um século depois de sua desaparição, até mesmo por milènios. E vocè descobre o modo alegre e divertido com que essa pessoa fala do assunto. Vocè também se descobre como uma espécie de atualização dessa perspectiva. Ao se interessar, vocè se tornou um propagador do nome Nietzsche.
Imagine sua animação em saltar a sequència proposta e ler o que mais lhe interessa. Num átimo vocè se depara com novos atalhos insuspeitados, novos mundos possÃveis que o autor trilhou e que agora lhe oferece como um acepipe. Num labirinto sem guia, no entanto, vocè descobre que vale muito ler o conjunto todo para acompanhar um certo desenho. Descobre, por exemplo, que, dentre os muitos citados, só há dois autores vivos, um americano, John Barth e outro, um brasileiro, Pedro Süssekind. Descobre que esses dois autores vivos o ligam ao cotidiano das apostas de prosseguir no viver, de pensar por que vocè lè e por que alguém escreve um livro. Constata que John Barth está diante do impasse de não escrever mais ou de se ver paralisado, com a caneta na mão, diante da exaustão de ter escrito uma obra imensa, obra que agora o contempla do alto de sua estante.
Se tiver paciència e fizer algum esforço de reler os capÃtulos, verá que eles se interligam em suas questões fundamentais e aos temas do mundo atual. Há ou não há acaso? Há ou não liberdade de escolha? Se tudo já está previsto, pré-calculado, nada aconteceria de fato?
Não há solução fácil nem indicação de resposta. Novos atalhos para novas estórias, outros modos de contar.
Em meio a tantas páginas, vocè poderia descobrir que os ensaios não são apenas não-ficcionais, que o autor se metamorfoseia em narrador ao explorar os limites onde o conceito se mistura ao ficcional (por exemplo, no caso da presciència divina, aqui ampliada e repensada com recurso à questão dos sentidos semânticos, que, inquietamente, vem abalar a estabilidade majestática do próprio cálculo divino), replicando, ainda que só discretamente, a fluidez semântico-conceitual que, por vezes ostensivamente, ocorre na escrita literária contemporânea.
Imagine, então, que vocè decidiu seguir em frente, adotando as reflexões e as conectando com sua experiència. A escolha ainda pode ser sua, quem sabe?