Marie, não imaginava que aquela manhã reservava
tantas emoções, tantas decisões adiadas, tantas revelações!
Falar sobre seu passado com Lucca, não era uma tarefa fácil, ela precisava
naquele momento ter um controle ainda maior sobre suas emoções que
estavam completamente em frangalhos.
Apaixonada, apavorada, não sabe como lidar com seu presente, que é
tão assustador quanto um Mar Profundo!
*Arrebatador
*Chocante
*Verdadeiro
PRIMEIRA PARTE:
Acordo com uma dor terrível no peito, olho para o lado e lá está ele deitado de costas como sempre! Sentindo aquele gosto metálico na boca, corro até o espelho orando a Deus mais uma vez para que não haja nada na minha língua, mas para meu desespero total, há aquela coisa branca e pastosa por toda a minha língua! Meu corpo começa a tremer, as lágrimas começam a rolar pelo meu rosto de desespero por ter pensado mais uma vez que aquele assassino teria mudado. Olho para ele dormindo e abafo meus gemidos de desespero, pego minha bolsa e algumas roupas e saio do quarto sem fazer barulho.
Me visto rapidamente e enquanto ando pelo corredor vejo fotos de nós dois, nossos filhos e netos. Paro, olho para cada um deles e, sentindo que vou desistir de novo, saio correndo de casa, mas na porta ele está parado com os olhos fixos nos meus, meu fiel amigo, meu conforto em tempos de tristeza. Olho para ele e murmuro:
"Eu sinto muito, mas preciso ir! Tenho que deixar você, Spike!"
Ele me olha com tristeza, parece saber que não posso ficar... faço um carinho na cabeça dele e corro em direção ao portão chorando, tenho medo de que ele me siga como sempre faz, mas para minha surpresa, ele ficou ali me olhando sem se mexer.
Quando estava a poucos metros do meu portão do lado de fora, ouço gritos e por um momento pensei que vinham da minha casa.
Caminhei por horas, parecia que aquele lugar era muito longe, mas talvez tenha sido meu estado emocional que me fez pensar que a Delegacia era tão longe. Ando rápido, olhando constantemente para trás, pensando que Lucca está tão perto que não poderei entrar na delegacia.
A dor no peito era latente e eu precisava entrar naquela delegacia, mas meus passos não acompanhavam meu desespero. Finalmente avisto a delegacia de longe, mas paro horrorizada, pois na frente dela estava um homem igual ao Lucca. Não, não tinha como chegar tão rápido, eu estava vendo coisas!
Sufocando em pânico, me escondo atrás de um poste de luz tentando controlar minha respiração, mas não consigo.
Sentindo que ia desmaiar, me agachei segurando os joelhos, respirei fundo, foquei na minha respiração, sei que não posso desmaiar naquele momento.
À medida que a falta de oxigênio em meu cérebro começa a fazer efeito, sinto como se estivesse afundando em um mar profundo, me engolindo e me levando às profundezas mais escuras. Não consigo respirar, não consigo ajuda, ninguém vê meu desespero! Estou lutando contra um predador que não me deixa escapar de suas garras, pois ele sabe que ninguém virá me ajudar! De repente ouço o som de uma ambulância que passa correndo, tento olhar novamente para ver se o homem ainda estava parado em frente à delegacia, mas vejo que ele havia sumido. Reúno minhas últimas forças e caminho em direção à delegacia com as pernas bambas, com uma dor aguda no peito e a respiração insistindo em me tirar a razão. Paro na entrada e penso quantas vezes evitei estar ali, quantas vezes pensei mil vezes nos meus filhos, nos meus netos, mas precisava me livrar da droga letal, que deixei na minha cama naquela manhã dormindo!
Fiquei ali por alguns minutos, sentindo minha cabeça latejar, meu corpo todo tremendo, e aquele medo constante que surgia toda vez que eu tentava me distanciar dele.
Naquele momento eu sabia que não poderia ir para casa.
Continua...