Todos os Cristãos rapidamente se apercebem de que o Evangelho segundo S. João possui um caráter único e especial. Ao contrário dos outros Evangelhos, João não nos apresenta o nascimento de Cristo na Terra, nem traça Sua genealogia a partir de Adão para evidenciar Seu título de Filho do homem. Tampouco apresenta Jesus como o Profeta cumpridor de Seu serviço divino. Em vez disso, João nos conduz a um ponto de vista eterno, começando antes mesmo da criação: "No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus." Assim, somos convidados a contemplar a glória de Jesus como o Filho de Deus, transcendente e eterno.

Desde o primeiro capítulo, João revela a existência prévia de Cristo, antes de todas as coisas serem formadas, apresentando-O como o Verbo eterno feito carne. Esta descrição sublinha que Ele é a expressão de todos os pensamentos de Deus, o Logos eterno, cuja existência precede qualquer começo humano concebível. "No princípio era o Verbo." Esta afirmação não apenas indica Sua presença antes de todas as coisas, mas também a Sua coexistência e identidade com Deus, reafirmando Sua divindade e natureza distinta.

João distingue claramente o Verbo de toda a criação: "Todas as coisas foram feitas por Ele, e sem Ele nada do que foi feito se fez." Esta distinção reafirma que tudo o que foi criado teve origem n'Ele, mas Ele próprio não foi criado. Além disso, "Nele estava a Vida," e esta Vida era a Luz dos homens, destacando Sua relação especial com a humanidade e a revelação da natureza divina.

O Evangelho de João vai além do relato de Gênesis ao começar com a história do Verbo na Eternidade, antes da criação do mundo. Este Evangelho apresenta Jesus não apenas como a Luz do mundo, mas como o Verbo que se fez carne, habitando entre nós em plenitude de graça e verdade. Através desta manifestação, João destaca que nós, como crentes, participamos de todas as bênçãos decorrentes da Sua encarnação.

Quando o Verbo se fez carne, Ele revelou a Deus de maneira adaptada à humanidade, respondendo a todas as nossas necessidades. A glória que Jesus Cristo manifestou na Terra era a de um Filho Unigênito, vindo da parte do Pai, cheio de graça e de verdade. Esta revelação é uma fonte inesgotável de bênçãos para nós, pois nos apresenta a perfeita expressão de Deus adaptada à condição humana.

Além disso, João destaca a importância do testemunho de João Batista, que introduz Jesus ao mundo, reconhecendo Sua superioridade e precedência eterna. Através deste Evangelho, a verdade sobre a relação de todas as coisas com Deus é revelada, trazendo consigo a graça e a verdade, não apenas anunciadas, mas encarnadas em Jesus Cristo.

Finalmente, a Lei dada por Moisés, embora perfeita em sua demanda sobre o homem, não poderia revelar a plenitude de Deus como Jesus o fez. Cristo não apenas mostrou o que o homem é, mas também o que Deus é, trazendo graça e verdade. Ele revelou Deus, conforme o conhecia, como o Filho Unigênito no seio do Pai, iluminando-nos com Sua glória e graça.

Este prefácio, portanto, convida o leitor a uma profunda contemplação do Verbo feito carne, de Sua natureza divina e eterna, e da incomensurável graça e verdade manifestadas em Jesus Cristo. Ao mergulharmos nas palavras do Evangelho de João, somos convidados a conhecer mais profundamente a glória de Deus revelada em Seu Filho, e a experimentar a plenitude de Sua graça em nossas vidas.