Poesia para dar dignidade aos sonhos
Pedro César Batista
A poesia é como o barro, um barro mágico, que liga sonhos e passos, imprime uma melodia que deve estar em conformidade com a dialética dos passos da humanidade, podendo dar vida às utopias. A poesia desabrocha, transpira, germina e vira fogo, um fogo incandescente, capaz de espalhar a esperança em tempos de fascismo.
Em: A história na linha do tempo! Davi Frazão mostra sua voz de historiador, sem esconder a sua compreensão sobre a importância da poesia, a qual não pode perde de vista o liame do tempo, das histórias, estórias, sonhos. Davi Frazão é, assim, poeta-educador, sua poesia é arte vinculada desde à raiz com desenvolvimento histórico e humano.
Davi traz seu olhar poético e de resistência, expõe suas dúvidas, aponta seus sonhos, recupera utopias e resgata a memória de quem tem "as mãos calejadas", para quem dedica seu livro.
Ele ousa falar o óbvio, "descobrimos - Somos humanos" neste tempo em que o "ódio está vulgarizado", onde condições elementares da convivência estão sendo abandonadas em nome de conceitos que pensávamos extintos. É "como pular as pedras?", sem a certeza para onde seguir: "Não sabemos a direção!". Seus poemas são sensíveis, mostra suas incertezas na estrutura e no papel do Estado, "vejo as urnas, só não vejo luz e esperança".
Davi não foge de sua responsabilidade, coloca-se com um poeta-sujeito, um poeta-cidadão, que sabe das consequências de suas obrigações. Ele não foge à responsabilidade, "deixa eu ver na janelinha: -'o que é que eu estou fazendo aqui? ". Assume sua tarefa como poeta-historiador: "Eu tenho direito, por isso vim aqui lhe cobrar".
As poesias não mostram apenas as inquietações da juventude do autor, também apontam, com firmeza, as causas visíveis e silenciadas: "A polícias - milícia - oligarquias- jagunços. / Todos eram a mesma coisa". Reafirma que "a injustiça continuou contando sua história", o que se comprova a cada nova notícia nas telas de televisões ou celulares, quando mentiras vencem a verdade. Da mesma forma que não abandona sua escola profissional, o poeta-historiador da luta dos oprimidos, lembra da importância da mulher quilombola, "Dandara, esqueceram de ti! / A mulher do grande Rei. / A Rainha heroína, mais importante que a Imperatriz Leopoldina. / A 'história' é uma 'faca', / Tua voz! Teu silencio! / Nossa Princesa não é Isabel".
Os poemas reafirmam sem vacilar, o que o poeta pensa: "Sonhar é acreditar que todos somos iguais", pois mostra que "estava cansado de carregar o fardo / Para construir a casa que ele nunca morou". Por isso, neste tempo em que a justiça, a liberdade de criar, pensar e sonhar estão sendo questionados, quando autoridades querem homenagear quem praticou crimes, queimou livros, prendeu, torturou e matou quem pensava diferente e defendia a justiça, os poemas do poeta-historiador vêm com a força da utopia que a mocidade traz em sua alma, em suas procuras e na confiança, no que o autor afirma, "sou irmão da tempestade", por isso, sugiro, que leia estes poemas como se fossem sementes por um tempo de paz e igualdade.
A poesia de Davi Frazão é combustível para que as luzes não sejam ofuscadas pelo obscurantismo que tenta impedir a poesia de dar dignidade aos sonhos.