Não, você não vai maltratar essa donzela e agarrava-lhe os braços. As malas rebolavam por ali, no meio das pessoas, que se amontoavam para não perderem nada da cena e, D. Isaura aparecia espavorida gritando: Arretê! Arretê! S'il vou plait! Que faites-vous? E cascava-lhe uns sopapos na cabeça, enquanto ele puxava os cabelos e dava umas palmadas em Soraya, ao mesmo tempo que lhe chamava puta, sua desgraçada, me seduz, faz-me acreditar e agora se nega!? Mas que é isso? Filipe corria desesperado em socorro de sua amada Célia, não era Célia o rosto era outro, era Soraya, mas não conseguia mexer-se, quando armava um murro para atingir o rapazão havia uma força que lhe segurava o braço e o impedia, puxava, que coisa, parecia-lhe. Elisa aparecia com um rosto enorme e sorriso de escárnio e projetava para ele um dedo indicando onde estava ele, o amante de Soraya. Ele desatava a correr em sua direção e quando estava quase a pegá-lo escorregava na casca de banana no chão e estatelava-se pelo cais além. Ela chamava por Filipe e provocava um enorme eco em toda a gare. Toda a gente parada no meio do cais, com olhos grandes saindo das órbitas, afastando-se agora para dar lugar a um monte de seguranças que apareciam, separavam o suposto namorado e a Célia, não, Soraya, e acabavam todos a contas com a justiça dali: Teriam de andar até o posto policial para esclarecer toda aquela violenta desordem, em pleno cais de desembarque de uma das gares mais importantes de Paris... D. Isaura não entendia nada do que se estava passando, e queria que lhe dessem explicações, e as malas? Onde estão nossas malas? Perguntava. Era preciso procurar as malas, desapareceram, talvez alguém as tivesse roubado? Mas que cena mais macabra..! --- Como foi isto acontecer? Quem é aquele cara ali? Aponttava para o namorado da Soraya, Elisa, assustada. Não obtinha resposta. Ninguém falava nada, os policiais de ar agressivo, obrigavam todos a desandar dali, não queriam mais aglomeração. Mas, pronto, tudo aquilo não lhe dizia respeito, refletia Elisa, não tinha nada a ver com eles, desconhecia a vida daquela gente com quem tinha se cruzado na viagem. Melhor assim, pegava nas coisas e seguia à sua vida. E Filipe? Onde estará ele? Olhava, olhava, mas era tanta gente que não dava para ver onde os seguranças estavam e para onde os levaram. Será que vão presos? Mas que comédia! Não pareciam má gente... e assim, caminhava ao longo do cais sem explicação para o que tinha acontecido ali... Mas no meio daquela gente toda surgia de repente o cavalheiro mal intencionado que parecia um touro e investia de novo sobre Filipe, espetando-lhe um valente soco num olho que o deitou por terra e ele gritava por socorro com a mão sobre o olho, gemia e rebolava com dores estatelando-se da cama abaixo, acordando toda a gente com estrondo e magoando-se severamente... As luzes acenderam-se e as cabeças pendidas observavam incrédulas Filipe estendido no chão, gemendo de dores, sem entenderem o que se tinha passado... --- Sonhava! Dizia ele tentando erguer-se timidamente do chão. --- Está magoado? Logo perguntou Elisa, ajudando. Do outro lado Soraya começava de rir à gargalhada, enquanto Isaura olhava admirada e dizia encolhendo os ombros, -- acontece..! Mas que grande cena mais macabra, pensava ele cambaleante e envergonhado... --- Ó homem sossegue..! Mas com quem sonhou você? Deve ter sido bem sério esse sonho..!? Ajuntava ela sorrindo maliciosamente...