Quanto vale uma vida? Existem vidas mais ou menos importantes? Para os investigadores da Delegacia de Homicídios de São José dos Campos a resposta é "toda vida vale a pena e representa uma perda para quem ama".
"Nosso dia começa quando os seus terminam...". Realmente, é um lema macabro, mas apropriado, já que no empenho e a dedicação dos policiais é o fator decisivo para superar a média estadual de 42% de esclarecimento de homicídios.
O lema é apropriado porque a dedicação e o empenho desses policiais compensa a conhecida falta de estrutura, o verdadeiro gargalo de todo serviço público. A maioria das pessoas pensa no serviço público (a Polícia, inclusive) como uma burocracia que trava tudo e favorece quem deseja apenas um cargo. O que não percebem é que o cargo impõe uma responsabilidade e um dever de dedicação que supera qualquer trabalho privado.
Não existe hora extra, não existe dor de barriga, não existe desculpa. Se o telefone toca e o chamado é para atender o local do crime, mesmo que seja na madrugada, os segundos contam. Afinal, não é apenas mais um, ou um corpo inerte. É uma família que sofre a perda e que espera que a Justiça traga algum conforto.
Conceitualmente, a investigação policial é uma atividade técnica, alicerçada na produção e construção de conhecimento a respeito de fatos e pessoas, com a finalidade exclusiva de oferecer instrução processual, por meio de relatórios escritos. Naturalmente, isso exige capacitação técnica para levantar as informações e discernimento para compreendê-las e transformá-las em conhecimento, além de habilidade escrita para colocar no papel de forma clara uma explicação sobre os fatos, circunstâncias e pessoas envolvidas. Ou seja: não é para qualquer um.
Na prática, a investigação é uma arte e Crônicas de um Investigador nos conta um pouco disso, a partir do relato de casos reais esclarecidos pela antiga Equipe de Homicídios da Delegacia de Investigações Gerais, hoje, 3a Delegacia de Homicídios da Divisão Especializada de Investigações Criminais de São José dos Campos.
Não é à toa que nossa cidade é uma referência nacional. Com uma média anual de 80 casos, em 2016, a equipe esclarecia 70% dos homicídios, mesmo com a falta de efetivo e a precaridade de condições estrangulam os trabalhos de investigação. Hoje, os números são ainda melhores (menos de 40 homicídios por ano e mais de 75% de casos esclarecidos), fazendo de São José dos Campos uma das melhores e mais seguras cidades do Brasil.
Neste livro, a partir do relato de casos reais, fazemos uma reflexão a respeito das causas da criminalidade e apresentamos algumas conclusões, que necessariamente dependem de um olhar dos Governantes na direção de políticas públicas de educação e promoção da juventude. A ideia sempre foi explicar, de uma maneira acessível, como as investigações se desenrolam e como chegamos ao patamar de referência nacional. Não foi fácil, mas tentamos deixar a narrativa o mais agradável e esclarecedora, quanto fosse possível. Afinal, esta é a nossa História. Na nossa vocação e o motivo pelo qual não pensamos e avançamos na direção do perigo.