O que você faria para prender alguém na sua vida?
Olhar vidrado naquela gota de suor descendo cerimoniosamente da orelha ao pescoço... A gota no pescoço? Fotografia na memória: olhos fechados, cabelos suados fazendo curvas no rosto, a boca semiaberta, o nariz romano? Árabe? Perfeito naquele rosto de traços tão marcados. Seus músculos reluziam de suor. E seus movimentos bruscos faziam com que a gota acelerasse na curva do cangote, pegando impulso e desaparecendo.
- Vira!
Camile acordou do transe e prontamente atendeu a ordem colocando-se de quatro como uma cadela, ou, para não perder o lirismo, como se estivesse saudando o sol de quatro. Ele saudava a lua, firme, forte, ali dentro dela, tão quente, apertado, tão proibido. Assim ficou viciado naquilo que só ela conseguia dar com tanto prazer. Sol? Não! Era luz na cara, no corpo.
- Apaga a luz, Fê!
- Não. Quero te ver!
[...]
Camile é uma mulher de 30 anos recém divorciada, carente, impulsiva, que passou sua vida adulta toda sem se realizar sexualmente com parceiros. Disposta a tudo para buscar seu prazer e se reinventar fora de um ciclo de relações tradicionais fechadas que não a realizavam em nenhum sentido, Camile conhece Felipe, um homem em um casamento tradicional, porém um conquistador compulsivo. A ideia dos dois a princípio era ter sexo casual vazio, sem muitos encontros e sem envolvimento. Assim teria sido se Camile não tivesse tido a audácia, a petulância, de conquistá-lo só para não ter que ficar numa relação casual frívola. E para isso a protagonista usa a arte de uma escrita tão forte e sedutora, que foi capaz de baixar a guarda até mesmo de um experiente homem infiel em busca apenas de sexo. Para tornar um sexo casual iníquo em algo prazeroso, Camile objetifica Felipe nas suas composições poéticas, transformando-o em um falso muso, até alcançar um sexo tão prazeroso, que fica impossível não se apaixonar. Os encontros antes ocasionais transformam-se em lirismo e a luxuria dos dois é perpassada por versos eróticos cheio de paixão e tesão. Porém a vaidade é inimiga das realizações e tanto "a força criadora" quanto "a falsa criação" se perdem, se predem e se viciam num jogo poético que começa a revelar medos, fraquezas, dores, vaidades, mentiras e contradições que acabam com a paz dos amantes não declarados.
"Cinquenta poemas de não amor para foder (palavra aqui empregada na sua mais ampla semântica) com ele" é um romance erótico moderno que traz na sua narrativa temas tabus e controversos como: relações tradicionais, casamento fechado, falsa monogamia, sexo casual, traição, ciúmes, fetichismo, drogas, prazer feminino e desconstrução de estereótipos, nos quais as mulheres são vistas como seres passivos, objetos de desejos submissos e destituídas de prazer e fantasias. Descubra nesse romance sem pudores o poder de sedução de uma arte poética. Deixem o conservadorismo de lado. Se quiserem podem pegá-lo de volta no fim. Mas só no fim.