About the Book
Sete longos anos que pesam como uma enorme pedra na consciencia de todos os brasileiros. Referimo-nos aos anos de chumbo, esse intervalo que vai de 1968 a 1974, e que mostrou toda a brutalidade, a violencia, o infimo autoritarismo, de um regime militar que governou com mao de ferro por 21 longos anos (1964- 1985), deixando uma marca indelevel na sociedade brasileira, ainda visivel e perceptivel na vida cotidiana. O Brasil, hoje, e tambem, em parte, o resultado desses anos tragicos, e todos sao responsaveis. Sao responsaveis aqueles que apoiaram o golpe militar de 1964, triunfalmente batizado de "revolucao," acreditando que o militar iria garantir a ordem e o bem-estar. E responsavel a oposicao, que nao sabe unir as forcas e criar uma verdadeira frente anti-golpe. E responsavel a Igreja Catolica, cuja hierarquia ultra-conservadora no comando, estava justo preocupada de eliminar o perigo vermelho que pairava sobre o pais. Sao responsaveis (a maioria), aqueles que permaneceram neutros e fingiram nao saber e nao ver. Foram os anos de chumbo, caracterizados por uma violencia e repressao sem precedentes, que despertaram as consciencias. Nao mais dava para permanecer inerte e passivo diante de um regime que prendia, condenava, torturava, matava e apreendia, milhares de cidadaos, muitas vezes apenas contando com mera suspeitas e total falta de provas. Por fim ate mesmo os Estados Unidos, o principal aliado do Brasil, que delegou o regime de exercer a politica sub imperialista no continente latino-americano (doutrina Nixon-Kissinger de satelite privilegiado), em nome dos Estados Unidos, com o presidente Jimmy Carter, retiraram o seu apoio: a violacao dos direitos humanos nao era mais toleravel. Embora a ditadura brasileira, do que os da Argentina e do Chile, tem um numero de mortos e "desaparecidos" de muito inferior (oficialmente cerca de 500), isso nao significa que foi menos brutal e repressiva, de certa forma foi muito mais eficiente porque a repressao foi feita com precisao cirurgica, nao atacava indiscriminadamente, mas apenas os inimigos jurados do regime. E quando isso aconteceva, foi com extrema violencia.O que e mais desconcertante, hoje, e a falta de vontade, generalizada, para enfrentar serenamente aqueles anos, realizar uma analise do significado historico da ditadura militar e, especialmente, punir os autores dos hediondos crimes cometidos no periodo escuro do regime. O processo de volta a democracia tem, ao longo do tempo, imposto a todos de omitir o debate sobre os anos de chumbo, porque isso teria complicado o caminho para a construcao de um amplo consenso democratico de todas as forcas, politicas e civis, democraticas, indispensavel para o retorno ao regime democratico. No final tambem para a esquerda era mais conveniente ignorar o assunto, porque enfrentar-lo teria levado a repensar o significado historico de grupos de esquerda que se juntaram a luta armada (reabrindo a antiga ferida antiga que remonta a epoca da cisao no Partido Comunista Brasileiro) e, especialmente, admitir o antigo projeto do estabelecimento de uma ditadura do proletariado, projeto que foi sufocado pela contra revolucao dos militares.E por isso que os nomes dos ditadores que cometeram crimes horrendos na America do Sul, como os de Pinochet (Chile), Jorge Videla e Leopoldo Gualtieri (Argentina), Manuel Noriega (Panama), Alfredo Stroessner (Paraguai) ainda sao lembrados, enquanto nada diz, para a maioria das pessoas, o nome do general Emilio Medici Garrastazu, presidente do Brasil de 30 de outubro de 1969 a 15 de Marco de 1974, o arquiteto da virada repressiva da ditadura, dos anos de chumbo, o periodo das trevas do regime militar.