Tenho uma interessante contribuição a entregar à comunidade psiquiátrica e à sociedade em geral.
Percebi um interessante detalhe sobre a depressão e estou certo de que, tão logo percebam tal detalhe, outras pessoas também podem ter alguma melhora em seu quadro depressivo. Para que aconteça tal percepção comparemos um acidente físico com um acidente depressivo. O Afonso, suponhamos, sofre um acidente de trânsito e nesse acidente ele perde sua mão esquerda. O Bartolomeu também sofre um acidente. Ele sofre um suicídio na família e fica deprimido.
Pois bem.
No primeiro tipo de acidente, no acidente físico, a pessoa sabe que foi tal acidente o que a fez ter tal prejuízo e perder a mão. A pessoa sabe que se tal tragédia não tivesse acontecido, ela estaria com suas duas mãos.
E no segundo acidente também. No segundo tipo de acidente, no acidente depressivo, a pessoa sabe que foi tal acidente o que a fez ter tal prejuízo e entrar em depressão. A pessoa sabe que se tal tragédia não tivesse acontecido, ela estaria sem depressão. Ora, é claro que em geral essa consciência (sobre que tal prejuízo é efeito de tal acidente) gera angustias, raivas, ressentimentos e ruminações referentes a tal acidente.
"Porque isso tinha que acontecer comigo?", "Porque o farol foi ficar vermelho bem naquele momento?", "Por que tal pessoa foi cometer tal falha?", "Se aquele acidente não tivesse acontecido, eu não teria perdido a minha mão!", "Se a pessoa não tivesse se suicidado eu não teria ficado traumatizado e deprimido". E assim por diante.
É claro, outrossim, que essas ruminações geram, em muitos casos, uma intensificação dos sentimentos de injustiça, impotência, mágoas, culpas etc. Daí entram em cena o psicólogo, o palestrante motivacional, o youtuber especialista, o psiquiatra, o parente e o amigo. Todos muito bem intencionados. Todos com muito boa vontade de ajudar o acidentado a viver melhor. "Esqueça o passado!", "Libere perdão!", "Pare de sofrer!", "Assuma responsabilidade", "Conhece-te e ti mesmo", "Aceite a realidade", "Levante a cabeça!", "Pare de se vitimizar", "Se valorize!" "Dê a volta por cima", "Largue isso" etc.
Embora muito bem intencionadas, esses tipos de instruções jamais me foram de qualquer ajuda em meus quadros e crises depressivas. É verdade que é impossível voltar ao passado e mudar as coisas (e por isso é verdade que a pessoa deveria deixar de ruminar o passado - já que não se pode voltar e mudá-lo).
Mas, é verdade também que é impossível deixar o passado para traz se agora no presente eu sigo sofrendo as dores e as consequências desse passado. Ora, se as orientações sobre perdoar, esquecer, superar, deixar o passado para trás etc são inócuas, ineficientes e completamente vazias, então o que acontece? O que acontece é que eu ficava completamente angustiado e desesperado. Eu acabava tendo meu quadro mental agravado por minhas ruminações intensas, compulsivas, surtadas e constantes. Isso porque no tocante a meus acidentes depressivos eu aplicava o mesmo sistema mental que eu aplicava nos acidentes físicos. Ou seja, eu reparava que todas as pessoas que, de um mesmo modo, passam por um mesmo acidente físico, tem um mesmo resultado físico; e eu aplicava essa mesma constante no tocante aos traumas causadores da minha depressão. Pronto. Eis assim armada toda a situação perturbadora e eis preparado todo um poderoso e venenoso coquetel causador e intensificador de todos os meus quadros depressivos. Isso porque a realidade supra exposta angustiava, abatia e exauria completamente a minha mente.
Que realidade supra exposta?
Reescrevo-a: "Todas as pessoas que de um mesmo modo passam por um mesmo acidente físico, tem um mesmo resultado físico".
Ora, o fato de o leitor ainda não haver percebido meu ponto atesta que diariamente "ingerimos" pesadas doses do tal coquetel venenoso sem sequer o perceber. Aliás, como